Ufologia: reflexões revisionistas.
Francisco Aristides de O. S. Filho*

O que move a escrita desse texto é uma magia poética através de uma relação de amor e ódio que possuo com este tema, onde tinha me afastado dos estudos devido à crise cíclica que alguns de nós possuímos dentro da Ufologia, às vezes acordo indisposto a querer pensar num sentido para reformular as concepções que possuo, pois todo pesquisador em UFOs é essencialmente um solitário, no aspecto deleuziano do termo, uma solidão desértica extremamente povoada por espíritos de angústia dentro da vastidão que nossa visão proporciona no cosmo indecifrável. Gostaria de informar que esse texto não segue uma linearidade, são reflexões geradas da minha volta a esse mundo, novos pesadelos tornaram a surgir e me reconstituir como Ufólogo da UPUPI. Vocês não encontraram aqui parafernálias eruditas estruturadas em seus grilhões que visam dar uma sensação de frieza ao texto de cunho científico, pois meu sentido de ver a ufologia flutua nas fronteiras da ficção e realidade, onde teoria deve cotidianamente ser revista na mente de todos os pesquisadores para que os espinhos interrogativos não perfurem nossa ânsia e crise de uma sociedade que vive da lógica do ver-crer, enquanto nós estamos no plano do dizer-crer-ver, uma situação sensível, para Ufólogos com sensibilidade teórica.

            Quando digo dizer-crer-ver, é uma perspectiva que segue uma linha de pensamento que percebe a Ufologia como uma pluralidade, dentro de uma conexão não-surperticiosa, e sim possibilística encarando que não precisamos nos limitar na própria realidade extraterrestre, mas que nossa subjetividade já produz essa realidade. Nós dizemos, significamos e colocamos dentro desse fluxo disritmado pela inconstância fenomenológica nossa crença de um ver que não dá respostas, apenas trabalha possibilidades e inventa. Mas não a invenção no sentido vulgar, e sim dentro da nossa teia de significações.

            Alguns ufólogos se preocupam com o caráter de verdade (conceito fragmentado e diluído na produção de nossos discursos) e se desinformam que até a ciência, o cartão de visitas para uma padronização de informações que passa uma imagem comportada aos leitores de Ufologia também inventa:

“Há pelo menos três décadas uma palavra começou a aparecer com freqüência nos títulos e sub-títulos das obras publicadas não só pelos historiadores [Ufólogos], como pelos profissionais de áreas como as ciências sociais, a filosofia, a pedagogia, a educação física, a crítica literária, a psicologia, a comunicação e até mesmo como a literatura, a religião e a gastronomia, a palavra invenção(grifo meu). Mais do que fruto de uma coincidência ou de um modismo, o uso deste termo parece indicar que estes campos do saber partilham, no momento, concepções comuns acerca da construção social da realidade e de sua apreensão pelas diversas formas de conhecimento”.

 

             Um exemplo que podemos considerar dentro dessa problemática de aceitação do uso e reconhecimento da capacidade inventiva é a vigília, podemos considerá-la como um ponto de flexão e reflexão onde as diferenças buscam possibilidades de visitação a questões novas com atritos agradáveis na tentativa de buscar na escuridão, pequenas clareiras e novos regimes de interpretação para o fenômeno UFO, não somente ficar de olhos atentos para o céu para filmar objetos suspeitos.

            Portanto, não devemos limitar a pesquisa de campo a um padrão monolítico e sim promover a pluralidade de debates nas frentes de busca de tais energias, tanto material quanto imaterial, pois o fenômeno não está somente vinculado à tradição da fórmula ver-provar, mas a nossa própria dizibilidade que carrega uma carga considerável à visibilidade ao assunto, cruzando de modo poético nossas internalizações com a necessidade (até que de certa forma compreensível, apesar de ter mudado minha postura em relação à cientifização ufológica) de tornar científicas nossas indagações, pois a matéria prima da ufologia somos nós, as questões, os afetos e desejos de saber sobre a vida alienígena está envolta nessa teia de angústia e solidão que se esbarra em um universo cheio de branas admiráveis que se tocam e deformam o espaço-tempo, alimentando os sonhos de diluir as ásperas interrogações que mutilam nossos comportamentos.

            É importante ressaltar a dimensão inventiva que podemos encontrar na Ufologia, essa discussão vem se costurando há um tempo, mas não consigo enxergar interesse nos pesquisadores em refleti-la, pois nossos sentidos estão viciados numa busca limitada pelos fatos, isolando de modo mecanicista a natureza do acontecimento, não levando em conta o sentido orgânico que a casuística ou a fala que o depoente pode explicitar. Devemos repensar o papel do Ufólogo ou a Ufologia deve seguir esse caminho? É possível conviver numa área com metodologias heterogêneas? Uma revisão é fundamental.

            Outro aspecto que me fez buscar uma revisão no estudo foi à forma como utilizamos o conceito de evidência. Nas palavras do historiador Durval Muniz a evidência é

algo que tem voz própria esperando que alguém faça a pergunta correta para se manifestar, a evidência é produto de uma certa vidência, é construção de uma forma de ver, de uma visibilidade e de uma dizibilidade social e historicamente localizada. É o próprio conceito, é o discurso lançado sobre a empiria que a transforma em evidência (grifo meu). Nada é evidente antes de ser evidenciado, ressaltado por alguma forma de nomeação, conceituação ou relato .

               
                Somos bastante acostumados em dizer: estudamos a partir de evidências ufológicas, mas causa um incomodo afirmar esse enunciado se partirmos da leitura durvaniana de evidência, pois como está escrito, ela é um discurso que lançamos sobre a empiria. Nós projetamos nossos discursos a que empiria? A Ufologia se debate na questão do seu objeto(s) de estudo há bastante tempo, é crime dizer que possuímos objeto de estudo, até hoje nunca vi uma nave ou alienígena em laboratório (a não ser que as montagens de Roswell-EUA (1947) e Yekaterinburg-URSS (1969) nutrisse nossa frustração), desculpe a indelicadeza com os mais ingênuos que pensam nessa condição equivocada, mas se perceberem com paciência, verão que nossas concepções não são lançadas a materializações e sim a imagens registradas em câmeras ou depoimentos cruzados por temporalidades que distorcem a veracidade tão desejada, a revisão nesses aspectos são conflituosas e difíceis de absorver...os paradigmas devem ser revisitados para que todos reconheçam a volatilidade teórica da Ufologia.

            Espero que a minha volta ao cenário ufológico se estabeleça e que possa dar contribuições à comunidade como um todo. 2007 promete muitos resultados para nosso amadurecimento e intensificação de nossas equilibrações, portanto não pretendo fazer promessas que a Ufologia vai prosperar ou como pensam alguns Ufólogos inclinados mais a crença apaixonante e mistificadora da pesquisa: teremos finalmente um contato.     Só quero que as instituições ufológicas do Brasil não se acomodem e reflitam mais ao usar conceitos sem a devida consciência de sua verbalização. Pensar na evidência, cientifização e inventidade são critérios importantes na reivenção do discurso utilizado em nossos debates.

 

*Estudante de História na UFPI pelo 7ª período, membro do Grupo Cultural APICE e integrante da UPUPI .

 

Notas:
 
1 Da Terceira Margem Eu So(u)rrio: sobre história e invenção. Durval Muniz de Albuquerque Júnior. Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

2 IDEM.
           

FRANCISCO ARISTIDES
MEMBRO DA UPUPI
INTEGRANTE DO GRUPO CULTURAL APICE
GRADUANDO EM HISTÓRIA PELA UFPI
aristideset@hotmail.com
Março de 2007


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