Ponto de vista circense da “u”fologia: a falta de

respeito por ela mesma e a busca pela saída imediata

 

 

Por Aristides Oliveira, membro da UPUPI.

         

   Durante vários meses tenho me ausentado na produção ensaística neste site, voltando meus olhares para um conjunto de manifestações na imprensa nacional e internacional que só trazem decepção e mal-estar. É com grande pesar que nos últimos anos, não podemos ter orgulho da ufologia (com “u” minúsculo) como atividade de pesquisa, pois não está mais (acredito que nunca houve) ocorrendo uma coesão que possibilite uma interlocução teórico-metodológica que propicie reflexões dignas a comunidade, restrita e interessada em seriedade.
            Muitos grupos que surgem com caráter “independente”, sem recurso financeiro, não conseguem se sustentar tanto pela falta de preparo teórico e a não-organização do planejamento de ação dos trabalhos, fazendo um estudo localista e geralmente com resultados medíocres.
Vale lembrar que alguns estudiosos desvinculados do eixo “oficial” conseguem nos trazer interessantes trabalhos sobre a casuística da região, porém, as pesquisas de campo estão cada vez mais reduzidas devido à desarticulação (principalmente por motivos financeiros) que muitos integrantes sofrem pela marginalização de seus próprios trabalhos, pela falta de reconhecimento dos poucos pesquisadores com vontade de trabalhar no cenário, ofuscados pelo marketing desonesto de empresas falsificadoras da própria ufologia.
Se um dos ufólogos (Eustáquio Andréa Patounas) mais conhecidos do país afirma que atualmente “a Ufologia teve novidades sem relevância, muitas conjecturas, enganos, falhas de interpretação, guerra de egos, briga por lideranças, desrespeito, enfim, decadência, não só no Brasil, como no mundo”* e tendo como foco principal o dinheiro, pois segundo ele é aí que a “coisa degringola”, estamos indo de mal a pior. Isso não é nenhuma novidade para quem já convive nesse espetáculo mentiroso há certo tempo.
 Segundo o mesmo pesquisador: “Quando você faz uma Ufologia séria, com casos bem pesquisados, com imparcialidade, com seriedade, com profissionalismo, com conhecimento, as matérias serão ricas e, conseqüentemente, venderão bem, entende?” (será?), trazendo a nós as ditas revistas “especializadas”, com suas matérias fast food voltadas para um público de transitividade ingênua, arrecadando dinheiro o suficiente para perpetuar uma complexa rede empresarial, vendedora de informações grosseiramente mentirosas, ganhando destaque na mídia e dando créditos para todos tratarem a safra que ainda resta de “loucos”. Motivo aberto por nós mesmos, que não tomamos uma atitude para desmascarar ou criar outra fronteira que delimite as atividades ufológicas, sair da própria esfera de atuação e buscar outra linha de trabalho que oriente as investigações, deixando claro quem faz o estudo com seriedade, segregando os infratores aos porões do ostracismo.
É de imediato que nossos trabalhos precisam ser repensados e desmembrados da “ufologia”, termo que a cada dia se deteriora pelos próprios pesquisadores, inaptos a dar à sociedade uma explicação plausível ao conjunto de fenômenos que ocorrem no planeta.
Infelizmente, noto que as especulações informativas tomaram o lugar da “vontade de saber” e o profissionalismo cede lugar para o amadorismo precipitado, movido mais pela ânsia de se aventurar e buscar um exotismo pseudo-intelectual, do que ir ao campo analisar as possíveis implicações sócio-culturais que circundam a fenomenologia UFO.
É hora de todos os pesquisadores se colocarem no Muro da Vergonha e redefinirem seus posicionamentos teóricos e esclarecer qual o motivo do envolvimento com a temática ufológica. Este ensaio é um ponto de vista particular deste autor, que tem como finalidade levantar o debate sobre a crise que estamos passando e viramos as costas para não resolver o problema, pois acredito que não estamos mais fazendo “ufologia”, mas algo maior, que só quem pesquisa no campo pode ter idéia do que digo.
Pesquisa de campo não significa “aventura” e sim uma análise laboratorial em torno de um conjunto de significados dados por testemunhas a estranhos eventos, no qual elas consideram “inexplicáveis” diante de sua limitação referencial, cabendo ao pesquisador a obrigação de esclarecer aos indivíduos de determinada localidade pesquisada o que poderia ser em sua proximidade, e nunca afirmar ser de origem extraterrestre. Ora, desde quando podemos dizer que um objeto visto, tomando como ponto de partida um depoimento oral, carregado de interferências e ruídos da memória e da falta de uma orientação mais clara sobre sua especificidade é alienígena?
O trabalho carrega um peso mais cultural do que ufológico, pois não podemos encontrar de modo simplista os limites que separam a cultura popular de um suposto evento extrasensorial, aumentando em proporções alarmantes a falta de foco dos pesquisadores, que usam de sua ingenuidade para acreditar que tudo que é “inexplicado” vincula-se a um evento ufológico.
Os questionamentos que faço nesse ensaio é apenas a necessidade ouvir o que outros estudiosos na área (se é que podemos chamar ufologia de “área”) têm a dizer. Estamos realmente produzindo conhecimento ufológico? Será que vamos agüentar por muito tempo ouvir os aplausos de desprezo da comunidade acadêmica e dos céticos unilaterais? O termo ufologia ainda cabe de ser usado? É preciso uma mudança de paradigmas com urgência. Não podemos sustentar uma utopia que não existe mais.
Para perceber e acreditar na vida fora da terra, instrumentalizando esse sentimento, é necessário um rompimento com esse jogo de processos judiciais movidos por brigas pessoais entre “ufólogos”, eventos circenses que não acrescentam em nada a não ser o bolso dos recicladores de histórias improváveis, ingenuidade, amadorismo, falta de foco e precipitação. A falta de leitura é a maior das feridas, pensar que ufologia é só viagem e esperar as “naves” pousarem é de fazer rir.
O mal-estar ganha traços alarmantes, o cenário precisa de revitalização estrutural e mudança de eixo teórico. Ainda não sei exatamente como propor, pois só ocorrerá uma retomada significativa na pesquisa quando TODOS tiverem coragem de olhar para o problema e juntos, procurar um meio de segregar os indesejáveis e fazer do estudo sobre a presença de objetos voadores não identificados uma atitude respeitável. É fundamental o esforço em conjunto.

 

NOTAS

*http://www.viafanzine.jor.br/site_vf/ufovia/pag_ufo/entrevistas02.htm

Ensaio escrito em 30/01/2009.